sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Reverso do retrocesso: Entre o circo e a escola privada (Pt.1)

Reverso do retrocesso: Entre o circo e a escola privada (Pt.1): Meu conselho de “ educador ” é: tire o seu filho da escola e matricule-o, no máximo, em um circo. A educação brasileir...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

"Jumar", uma língua simulada a partir do Hebreu

Esta postagem refere-se à simulação de uma língua que nomeamos “Jumar”, a qual integra um trabalho de descrição e teorização morfológica apresentado à Profª  Tânia Rezende como critério avaliativo. Seguem os dados:


1) Blicat        ‘ligar’
2) Blicattot    ‘ele ligou’
3) Blicattat     ‘ela ligou’
4) Blicattout   ‘nós ligamos’

            Observem que a composição das unidades 1 e 2 revelam que a primeira constitui a base para a formação da segunda ( e de todas as formas seguintes). Logo, nesta língua, a raiz é expressa, ao se tratar de verbo, sempre sob a forma do infinitivo. Além disso, as formas 2, 3 e 4 apontam uma oposição na expressão e no conteúdo entre /-tot/ ‘ele’, /tat/ ‘ela’ e /out/ ‘nós’, o que , dada a artificialidade da língua, nos permite certificar esta análise. Entretanto, há de se observar certas irregularidades nesta língua, as quais podemos verificar nos seguintes dados:

5) Blitactateé        ‘Ela ligou-me’
6) Blitacauzié       ‘Eles ligaram-te’

            Nestas unidades apresentadas, podemos observar que há uma mudança morfofonêmica denominada metátese - fenômeno que consiste na transformação da ordem dos fonemas -, verificada em todas as expressões que contêm pronomes, ocasionando assim, uma permutação entre as duas últimas consoantes presentes na raiz da “palavra”. Isso pode ser verificado na ocorrência de /c/ quando seria de esperar /t/, segundo os dados acima referidos.
            Outra importante reflexão está na comparação das unidades 5 e 6 com as unidades 2, 3 e 4, as quais permitem identificar os morfemas /eé/ ‘me’, /auz/ ‘eles’ e /ié/ ‘te’; capazes de nos revelar os seguintes pares morfêmicos: /tat/ ‘ela’ e /tot/ ‘ele;  /eé/ ‘me’ e /ié/ ‘te’ (pertencentes à classe dos pronomes). Portanto, a língua “Jumar”, como foi observado, é divisível, basicamente, em dois ou três segmentos: tema + agente + pessoa sujeita à ação; e seguindo, em geral, esta ordem.
            Podemos observar que esta língua fantasiosa segue em essência a organização da língua hebraica, uma vez que esta nos serviu de base tanto na criação como na descrição daquela. 
Observem os dados a seguir:

               1) ktb  'escrever'
2 ) katab 'ele escreveu'
3) katib 'escrevendo'
4) kitab  'livro'
5) maktab  'lugar para escrever'

Ao observarmos a primeira unidade, percebemos que por se tratar de uma língua semítica, o padrão mais geral para as raízes é CCC (consoante). Em 'ktb-escrever' o verbo é composto de três consoantes e posteriormente há a inserção de outras letras que configuram a mudança tanto do tempo verbal quanto de classe de palavra ou mesmo a origem de uma sentença.
Em 'katab-ele escreveu', a inserção de 'a-ab' origina a conjugação do verbo em terceira pessoa do singular referente à primeira unidade. Isso ocorre também 'katib-escrevendo': ao inserir 'a-i' na raiz tem-se um verbo em gerúndio.
As unidades 4 'kitab-livro' e 5 'maktab-lugar para escrever' diferem-se das exemplificadas anteriormente pelo fato de que não se tratam de verbos. Em 4 observa-se que a inserção de 'i-a' deu origem a um substantivo. É interessante observar que  se fôssemos considerar apenas a glosa dos dados, diríamos que se trata de um fenômeno irregular, pois a relação de derivação que há entre 'escrever' e  'livro' não é direta. Todavia, estamos tratando de uma língua semítica, ou seja, uma língua que não pertence ao mesmo grupo linguístico do português e, portanto, as características derivacionais diferem-se não somente em relação ao fator morfológico, mas também semântico da língua.
Esse fenômeno também acontece parcialmente na unidade 5: a inserção de 'ma-a' originam uma sentença, ou seja, tem-se um substantivo masculino singular e uma preposição que se relacionam com verbo.
Desta forma percebemos que a língua em questão apresenta modelos de derivação morfológica diferentes do português. Isso acontece, sobretudo porque se tratam de línguas cujos grupos linguísticos são diferentes (semita e indo europeu). A unidade mórfica que possibilita a transformação das palavras analisadas são os infixos, ou seja, morfemas que se inserem por completo no interior da raiz. É muito interessante observarmos que esse processo denominado 'infixação' propicia mudanças radicais no sentido da palavra: um verbo que origina verbos conjugados, em tempos verbais diferentes e até mesmo a origem de outro substantivo que não possui relação direta com a raiz. Assim, fica-nos claro que o impacto desse fenômeno morfológico causa diferentes resultados nas diferentes línguas existentes.
Logo, é visível a complexidade destes sistemas linguístico, uma vez que compreendem "fatores" intensamente distintos dos que nos é comum na língua portuguesa, fato que nos exige uma atenção cuidadosa e nos possibilita direcionar um olhar diferenciado sob o objeto em questão.


Jullyana Correa Ribeiro
Marco Aurélio Tomaz Cardoso





segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"Uma pessoa adulta e com uma formação média ou elevada reconhece entre dez mil e 15 mil palavras. Tendo em conta que a língua portuguesa tem cerca de um milhão de palavras, isto quer dizer que utilizamos apenas 1% a 1,5% dos seus recursos vocabulares.

Este fato deixa-me perplexo perante a forma como por vezes olhamos para os jovens e lhes condenamos à utilização de novas palavras ou perante as polêmicas à volta do acordo ortográfico. O aparecimento de umas poucas novas palavras ou a alteração da grafia de outras tantas não tem qualquer expressão na imensidão de palavras que podemos usar. Por exemplo, um livro com cerca de 200 páginas (escrito por um bom escritor) não terá mais de 50 mil palavras; não contando com as palavras repetidas e os artigos, sem rigor, um livro deve conter 12 mil palavras diferentes (por isso, é que recorremos tantas vezes ao dicionário).

Quer isto dizer, também, que poderíamos escrever várias versões do mesmo livro recorrendo apenas a sinônimos (entre outras coisas, por isso é que uma tradução pode transformar um livro noutro completamente diferente). O resultado, contudo, poderia soar mais a um dialeto africano ou a um dialeto de uma tribo nativa da América do Sul do que propriamente ao português."


Jaime Bulhosa

Jô Soares, a oralidade e a escrita!

“Pois é. U purtuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im portuguêis, é só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a minha lingua é u purtuguêis. Quem soubé falá, sabi iscrevê.”

Jô Soares, revista veja, 28 de novembro de 1990

Jô sempre foi melhor comediante que escritor e apresentador em minha opinião. Seu jeito pernóstico e arrogante sempre sobressaiu sua inteligência e criatividade. Seus entrevistados pareciam mais interessantes e interessados quando na platéia e não no famoso sofá. Seus livros nunca me prenderam o suficiente para chegar ao fim, o que no meu caso é fácil vez que a série Harry Potter obteve total sucesso nesta tarefa.

O texto acima é uma amostra bem humorada do sarcasmo do escritor Jô. Ao brincar com as diferenças entre oralidade e escrita em nossa língua, Jô nos deixa lado a lado com uma das mais ricas discussões acerca do Português.

O que temos a dizer sobre o tema? Quem sabe falar, sabe escrever? O que é afinal "saber escrever"uma língua? E finalmente, Jô Soares é autoridade para dissertar acerca deste tema?! Quem o é?

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Guardiões fracassados do século XXI


A desvalorização da literatura no processo pedagógico prejudica toda uma sociedade que poderia ser platônica


O interesse pela literatura tornou-se escasso, trazendo muitos problemas para a formação do cidadão. Há, na prática de ensino atual, muitas dificuldades de interpretação das obras literárias, provocando a falta de interesse por parte dos alunos, causando a banalização de textos clássicos e aumentando a “ignorância” popular. O maior exemplo da desvalorização da literatura está presente na serventia apenas para o vestibular, como exclamam vários alunos por todo o Brasil. Entretanto, voltando à Grécia antiga de Platão, estará claro que a literatura é extremamente importante para a formação de uma “sociedade perfeita”. 

Importante filosofo grego, Platão nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347 a.C.. Considerado um dos principais pensadores gregos, por influenciar profundamente a filosofia ocidental. Platão escreveu várias obras, mas, a primeira que reconheceu a poesia como importante ferramenta para a formação humana foi “A República”. O título da obra remete à cidade fictícia, que é criada para questionar os assuntos voltados à organização social. Não se deve entender República como a forma de governo que conhecemos hoje, mas sim como todas as formas de governo. 

Os gregos foram, por séculos, educados através do mito. O mito consiste em “uma narração fabulosa de origem popular e não refletida, dotada de forte sentido simbólico e pedagógico, que tem por finalidade a explicação do mundo, da realidade que nos circunscreve”. Era através das narrativas de um poeta-rapsodo que se dava a educação grega arcaica. Com o crescimento do comercio grego, refletindo transformações no modo de vida urbano, surgem questões que os mitos não conseguem explicar. Assim, aparecem os primeiro filósofos, chamados de pré-socráticos, para tentar responder a essas perguntas. Entretanto, a investigação filosófica dessa época era apenas do exterior, da natureza. Entre 470 e 399 a.C. surge Sócrates e suas perguntas sobre os valores nos quais os gregos acreditavam, trazendo a investigação filosófica para o interior humano. Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos que conduziam à dialética. Ou seja, “um método de diálogo, cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias”. 

“A República” foi escrita por volta de 387 a.C. e tem como narrador Sócrates. O motivo de sua existência é de ordem prática, é visto como advertência e conselhos. A obra é dividida em X livros, todos em forma de diálogos, conduzidos por Sócrates, com o intuito de responder à pergunta “O que é justiça?”. Mas, no decorrer desses diálogos, surgem discussões sobre vários outros temas. Como tentativa de uma definição mais pura e certa sobre o tema principal, Sócrates, no Livro II, propõem a criação de uma cidade fictícia. 

No decorrer da obra, com a criação da Politeia, no Livro II, surge a discussão sobre a poesia, pois, com a aparição de uma cidade imaginária, há a necessidade de um guardião e da educação do mesmo. Nos Livros II e III está descrita em detalhes essa educação: ela será à maneira tradicional grega, isto é, com ginástica para o corpo e música para a alma. Através desse diálogo sobre a educação para formação de homens com natureza filosófica surge, pela primeira vez, o tema da poesia. A poesia é retratada como parte da educação musical.

No Livro II, surge um novo exame sobre a definição de justiça (o primeiro exame encontra-se no Livro I). Nesse novo exame, Sócrates propõe outra estratégia para levá-los a ver a justiça e seu papel com clareza: a organização de uma cidade na qual eles inserirão o homem para, assim, perceber o que traz de vantajoso a ele ser justo ou injusto. Então, surge a necessidade de guardiões para defendê-la. Para moldar o caráter deles, devem ser educados desde a infância. A educação a ser utilizada ainda será a tradicional grega. Mas, antes da ginástica, é importante que se comece pela alma dos futuros guardiões. Ou seja, usar da literatura para educar a alma. Entretanto, Sócrates argumenta que se deve mudar a maneira pela qual os poetas concebem os mitos, de modo que se coloquem os deuses como realmente o são, ou seja, totalmente bons e sempre idênticos a si, e não como seres por vezes injustos e enganadores dos homens. 

No Livro III, encontra-se a continuação da construção da educação dos guardiões. O Livro II tratava da criação de regras para os poetas e a moldagem dos mitos, no III trata-se da continuidade desse movimento e da extensão para as outras artes. A princípio, para incitar a coragem, deveria muda o temor que se tem pelo Hades, a impetuosidade dos deuses e a postura de lamentação. Deve-se afastá-los das mentiras e aproximá-los da moderação. São analisadas a elocução, as harmonias e as melodias, perceptíveis na música tanto quanto nos mitos. No Livro III vemos a presença central da construção da educação dos guardiões estabelecer as bases sobre as quais toda a cidade se moldará. 

No Livro X reencontramos a questão da expulsão dos poetas da cidade perfeita. Por mais que se tenha um grande respeito por Homero e os poetas trágicos, Sócrates menciona novamente a questão da imitação e faz um novo exame. Vale lembrar que no início do Livro II, Sócrates expulsa dela a figura do poeta trágico devido à propagação de mitos que não estariam de acordo com a constituição da cidade. Agora ele retoma essa ideia utilizando as conclusões das discussões acerca da justiça. Para Sócrates, o poeta imita não aquilo que é verdadeiro, mas o que aparenta ser. O poeta conta o mito, trazendo a mentira e os filósofos buscam sempre a verdade. A imitação não caminha com a sabedoria nem cultiva a razão. Assim, não pode ser útil à constituição da cidade perfeita. O fechamento da obra contém um teor poético. 

Platão não recusou todas as poesias. Ele recusou a poesia de Homero, por conter elementos que influenciavam no crescimento filosófico da cidade perfeita. Para ele a poesia homérica só atrasaria e prejudicaria o homem grego. Platão acreditava que a poesia era muito importante no processo pedagógico. Mas, não podia ser qualquer poesia. Era necessário que ela criasse o homem do bem, justo, moderado. Para isso, essa poesia, deveria ser voltada para realidade, moderada e não cheia de ilusões com desigualdade de valores. Como Platão teve grande talento na escrita e inclinação poética, podemos concluir que, talvez, ele quisesse ser o autor que formaria os homens de sua época. Portanto, a poesia deveria ser muito mais valorizada, já que naquela época, Platão, tinha previsto a necessidade dela na sociedade, o grande benefício que ela traria para a construção do homem perfeito.

É perceptível como a nossa sociedade grita por uma República, de Platão, por guardiões evoluídos filosoficamente para trazerem benefício para sua comunidade. 








Paula R. M. Ungarelli

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A flexão de número de substantivos e adjetivos em Esperanto



O Esperanto é uma língua artificial idealizada por Ludwik Lejzer Zamenhof, um médico e filólogo polonês. A intenção de Zamenhof era criar uma língua de fácil aprendizagem e que pudesse servir de língua franca internacional. Graças a isso, o Esperanto – baseado no Latim, Grego, Francês, Alemão, Inglês, Russo – estabelece uma relação biunívoca entre grafemas e fonemas, além de apresentar poucas flexões sejam elas verbais ou nominais.  Essas são regulares, o que faz com que sua morfologia também seja bastante simples e regular.
Quanto à tipologia linguística, o Esperanto é considerado uma língua aglutinante, ou seja, as palavras combinam raízes e afixos distintos para estabelecer e expressar diferentes relações gramaticais, segundo Margarida Maria T. Petter.  Por ser artificialmente construída, não apresenta genealogia e, portanto, não pertence a nenhum tronco ou família linguística ainda que se baseie em línguas pertencentes à família do indo-europeu.
A escolha do Esperanto se deu justamente devido ao fato de que é uma língua artificial e, por isso, difere de qualquer outra língua ocidental ou não. Foi igualmente relevante o seu sucesso como segunda língua, de forma que seu número de falantes fez com que o projeto Esperanto saísse do papel e do nível de semilíngua. Além disso, é bastante simples – no sentido de que possui poucas regras, cujos usos são também bastante claros - como propôs Zamenhof, o que facilita a análise de suas unidades morfológicas.
Como a língua portuguesa, o Esperanto apresenta substantivos, adjetivos, advérbios, verbos, interjeições, conjunções, numerais, pronomes e artigo. Os substantivos e adjetivos se flexionam não em gênero, mas apenas em número. Aqui será analisada a flexão de número dessas duas classes.
Quanto aos substantivos, que são sempre terminados na vogal temática {-o} – sendo esta uma das 16 regras do Esperanto, temos os seguintes exemplos:
Knabo = menino/ knaboj = meninos/knabino = menina/knabinoj = meninas
E.g: Knabinoj kaj knaboj ludas = as meninas e os meninos brincam.
Patro = pai/gepatroj = pais/patrino = mãe/patrinoj = mães
E.g: Gepatroj estas tre eleganta = os pais são muito elegantes.
Literaturo = literatura/ literaturoj = literaturas
E.g: Literaturo estas arto = a literatura é (uma) arte.
Pupo = boneca/pupoj = bonecas
E.g: Pupoj falis = as bonecas caíram.
Pode-se perceber que o plural dos substantivos em Esperanto é feito unicamente pelo morfema gramatical flexional {-j}. Zamenhof optou por essa única possibilidade para, como já mencionado, facilitar o aprendizado.
Quanto aos adjetivos, que, por sua vez, são sempre terminados na vogal temática {-a} e concordam em número com o substantivo ao qual se referem, temos como exemplo:
Malbela = feio/ malbelaj = feios
E.g: La knaboj estas malbelaj = os meninos são feios.
Granda = grande/ grandaj = grandes
E.g: La domoj estas grandaj = as casas são grandes.
Riĉa = rico/ riĉaj = ricos
E.g: Literaturo estas arto tre riĉa = a literatura é uma arte muito rica.
Potenca = poderoso/ potencaj = poderosos
E.g: Cezaro estis potenca en Romo = César era poderoso em Roma.
Seguindo o modelo dos substantivos, o plural dos adjetivos também é feito pelo uso do morfema gramatical flexional {-j}.


TRABALHO ESCRITO (RELATÓRIO)

Objetivos:

Com a elaboração do trabalho escrito proposto, você terá a oportunidade de:
  • Aprofundar, aprimorar e refletir sobre os conhecimentos de Morfologia, um dos níveis de análise da linguagem, com quais entrou em contato durante o primeiro semestre de 2012;
  • Refletir acerca das concepções e teorias fundamentadoras dos estudos morfológicos das línguas naturais;
  • Analisar dados de diferentes línguas naturais;
  • Praticar a escrita acadêmica;
  • Elaborar relatório acadêmico.

Orientações gerais:

O trabalho que você vai escrever e apresentar é um relatório do estudo feito na disciplina Morfologia, durante o primeiro semestre. Relatório "é um texto de natureza analítico-expositiva,no qual são apresentados os resultados de um experimento observado ou da análise de dados coletados durante uma pesquisa. (...) funciona como uma prestação de contas ao final de uma atividade ou pesquisa específicas." O relatório científico/acadêmico - de pesquisa ou de estudo - apresenta o desenvolvimento e as conclusões de uma pesquisa ou de experimentos científicos." (ABAURRE; ABAURRE; PONTARA, 2010, p. 466)  Trata-se de um gênero discursivo, com finalidade e circulação específicas. Por isso, apresenta também estrutura e linguagem específicas. 

É um texto de caráter analítico-expositivo, com apresentação de evidências, exemplos comprobatórios. Deve ser redigido em linguagem clara (sem ambiguidades nem pluralidades de sentidos), concisa e objetiva (informações diretas, sem rodeios nem enfeites desnecessários). Deve-se evitar avaliações e visões particulares, pessoais; não fazer juízos de valor; evitar o emprego de linguagens figuradas; e priorizar enunciados sintaticamente organizados com a ordem direta. 

A estrutura do relatório deve conter uma introdução, exposição - apresentação dos dados e discussão e análise do que representam esses dados para a proposta de estudo. A produção/organização do relatório (trabalho escrito) não pode perder de vista que se trata da produção de uma unidade, portanto, deve-se observar a sequência e a interligação entre as partes que compõem o todo. Para auxiliar nessa organização, sugiro que o trabalho seja estruturado em, pelo menos, três partes, além da introdução, conclusão e referências. Pode haver ainda, se for necessário, anexo e apêndice.

Estrutura do relatório:

Capa
Folha de rosto 
Sumário
Introdução (retomar o programa da disciplina)
Apresentação do que trata o texto, ou seja, o que o leitor vai encontrar no texto: exposição da questão central do trabalho - formas de estudo das estrutura morfológica das línguas naturais; os objetivos gerais - Identificar e reconhecer elementos morfológicos em diversas línguas. Identificar a unidade mórfica típica de línguas de diferentes tipos linguísticos. Descrever os processos morfológicos de diferentes línguas naturais; os procedimentos adotados na análise e o suporte teórico (linha teórica, conceitos, categorias de análise, modelos de análise).

1. Teorias e modelos de análise mórfica
Todas as atividades do cronograma de maio/2012 e o exercício teórico, relacionados à Tipologia Morfológica.
Reflexão do grupo sobre as teorias e modelos teóricos propostos para a análise das línguas naturais

2. Descrição mórfica de línguas naturais I 

EXERCÍCIOS DE MORFOLOGIA 


1. Sejam os dados:

i. Der Junge hat seinem Bruder die CD mitgebracht.

ii. Der Junge hat die CD seinem Bruder mitgebracht.

iii. Seinem Bruder hat der Junge die CD mitgebracht.

        [O jovem trouxe o CD ao seu irmão]

iv. Bring mir die CD mit!            [Traz-me o CD!]

v. Bringst du mir die CD mit?     [Tu me trazes o CD?/Trazes-me o CD?]

vi. Ich bringe dir die CD mit!      [Eu trago o CD para ti/ Eu trago-te o CD!]

vii. Wer bringt mir die CD mit?   [Quem me traz o CD?/ Quem traz o CD para mim?]

viii. …weil ich dir die CD mitgebracht habe.            [… porque eu te trouxe o CD/…]

ix. Bringst du mir die CD, dann höre ich die Lieder! [Se você trouxer o CD pra mim, eu ouço as canções]

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gram%C3%A1tica_da_l%C3%ADngua_alem%C3%A3


a) identifique e discuta a posição dos termos (verbo, nome, preposição...) na oração.

b) de que tipo linguístico é essa língua?

c) como se organiza sua estrutura morfológica?

d) essa estrutura morfológica é caracterizadora do tipo linguístico ao qual se filia essa língua? Por quê?

Reflexões do grupo sobre a estruturação mórfica das línguas naturais a partir dos dados analisados.

3. Descrição mórfica das línguas naturais II

Os grupos devem escolher uma língua natural (línguas criadas ou inventadas artificialmente não são naturais, claro! Cf. a discussão sobre Tipologia na parte teórica), selecionar um fenômeno morfológico (flexão de gênero, derivação, etc, cf. a discussão teórica) existente na língua escolhida, problematizar o fenômeno naquela língua, tendo em vista o conjunto das línguas naturais (vide Tipologia na discussão teórica), apresentar os dados da língua escolhida, relacionados ao fenômeno morfológico selecionado. Para a apresentação dos dados, podem-se usar diferentes recursos, como gráficos, tabelas, listas, figuras, ilustrações, etc.

Reflexões do grupo sobre o estudo realizado.

Considerações finais
Interpretação, análise e discussão dos resultados. Podem ser apresentados questionamentos e recomendações aos procedimentos de categorização e estudo das línguas naturais, no que diz respeito à Morfologia.

Referências

Todos os autores/obras e sites consultados para a realização do estudo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Mude suas palavras!

A história do vídeo é batida; o que vale é a mensagem que ele traz...


As sensações que o amor provoca nas palavras




Falta de sentido, desespero... desconexão e dor, muita dor. Desnorteadas, as palavras tentam se encontrar, procuram um complemento lógico, mas não encontram, como se ao mesmo tempo em que quisessem estar juntas, quisessem, também, ter seu próprio sentido, único, desprovido de um complemento. Uma parte em um todo... 
um todo em suas partes.


De que adianta dar palavras a um sentimento tão forte, tão vivo, tão completo, que chega a deixá-las sem significado algum. Sensações? Não há qualquer união de letras capaz de vencê-las. Apenas os sentimentos dão conta delas... profundos, indizíveis, particulares. E, se fosse possível deitar tudo isso em palavras, logo estas perderiam o sentido.

Palavras significam... mas como significar algo que não pode ser traduzido, que não pode ser mensurado, que não pode ser nada além de vivido? E que, por mais inebriante que seja, também vem repleto de dor. Dor por ser e não ser, por ter e não ter, por ver e não ver.

Eu até posso deitar dor em palavras, até posso deitar paixão em palavras, mas como deitar isso em palavras? Elas simplesmente não conseguem alcançar o significado mais simples disso tudo. Porque nada é tão simples que possa ser contido em seus sentidos.

A sensação que o amor provoca nas palavras? Provoca... apenas... e as palavras não se sentem capazes de responder a tamanha provocação. Não é que sejam incompetentes. Só não possuem valor suficiente para encarar essa empreitada. Isso, aquilo, meu, nosso, tudo, é muito maior do que qualquer sequência de letras seria capaz de expressar. Podem até tentar, mas já é uma batalha perdida desde o começo.

A sensação que o issso provoca nas palavras? Derrota... derrota amarga que emudece quem tenta explicá-lo e transforma em analfabeto que tenta escrevê-lo. Tudo isso e apenas isso.

Não Faz Sentido! - Gente que escreve errado

domingo, 9 de setembro de 2012

DE ONDE VEM A PALAVRA VESTIBULAR?


“Vestibular: 1. Relativo a vestíbulo. 2. Diz-se do exame de admissão a um curso superior.
Vestíbulo: Compartimento na entrada dum edifício, em geral entre a porta e a principal escadaria interior. ”

Minidicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 4ª edição.

“As línguas, como as civilizações, têm história. Isso quer dizer que são processos sujeitos a transformações. Desse enfoque se ocupa a gramática histórica e, em particular, a etimologia, que é o estudo da origem das palavras. Determinar com precisão o nascedouro das palavras é tarefa das mais difíceis e nem sempre levada a termo.”

Thaís Nicoleti de Camargo, Folha de S. Paulo/2010

A palavra vestibular origina-se do latim vestis que significa: roupa, veste. Vestibulum, o diminutivo, era em Roma, uma peça que ficava na entrada das casas, onde as pessoas, ao chegarem deixavam suas roupas mais pesadas, ou, ao sair completavam-nas. Posteriormente a palavra vestibulum passou a designar somente a entrada das casas, a partir desta noção de “entrada” é que a palavra passou a indicar também a entrada no ensino superior, ou seja, o processo seletivo para nível superior.
A palavra vestíbulo reforça o sentido desenvolvido da palavra vestibular, no sentido da passagem obrigatória de quem quer chegar à porta principal.

Então:

VESTIS   à  VESTIBULUM   à  VESTÍBULO              à     VESTIBULAR
roupa, veste     diminutivo        peça na entrada das casas             exame de admissão
                                               para colocar roupas de rua            a um curso superior
                                               (capas, abrigos)
                                               compartimento na entrada                 
                                               de um edifício   


“As línguas se cruzam, se complementam e se modificam incessantemente, acompanhando o movimento de transformação do ser humano e suas formas de organização social.”

Nadia Betania, Artigo: Língua e Linguagem/2010.

Por: Lorrany Limirio

Quarto de despejo, Carolina Maria de Jesus - Jornal Opção


Quem deve/pode e quem não deve/pode escrever? Quando falo de direito linguístico, de autorização linguística e de dignidade linguística não estou falando de escrita correta e impecável, do ponto de vista do purismo gramatical brasileiro, inventado pela época da independência, reinventado pela época da proclamação da república e reafirmado sempre até hoje. Estou falando de expressão de sentido que vem da alma e de performatividade discursiva, para além da performatividade do mero ato de fala, de linguagem ou de discurso. Falo de escrita viva, que dá vida e confere dignidade, e que advém da pobreza, da sujeira e do lixo (para além da pobreza, da sujeira e do lixo materiais), porque a alma não conhece classe social nem grau de escolaridade. A alma pode tudo, sempre! Por isso, há tanto empenho em silenciar os gritos das almas excluídas intencionalmente e muito bem planejadamente. 

Vamos refletir sobre isso, dialogando com Euler de França Belém, no Jornal Opção, sobre a escritora Carolina Maria de Jesus e sobre seu significativo Quarto de despejo:

Alguns excertos:

"Lidas as primeiras páginas do diário, Onaga sugeriu: “Isso dá um livro!” Audálio Dantas conta que, “além do diário, havia contos, poesias, até um começo de romance”. Por mais que os textos estivessem repletos de erros de português, com algumas avaliações mal costuradas, havia vida, alma, no trabalho de Carolina de Jesus. O repórter frisa que “estava convencido de que não conseguiria retratar aquele mundo miserável com a mesma força e a mesma verdade contidas naqueles cadernos”. A vida, vista de dentro, sem os adornos dos métodos, era apresentada em toda a sua crueza, numa espécie de levantamento entre o sociológico e o antropológico. Carolina de Jesus lia livros que en­contrava no lixo."

"A repercussão, bombástica, gerou comentários céticos: “Isso é invenção de repórter, pra vender jornal”, “onde já se viu, uma negra semianalfabeta, e ainda por cima favelada, escrevendo desse jeito”. Ao reler o texto que escreveu para apresentar os diários, 54 anos de­pois, Audálio Dantas aponta “excessos de adjetivos, alguma pieguice e imperdoáveis falhas de informação” (não deu o nome dos filhos de Ca­rolina de Jesus)."

"O jornalista hospedou-a no Co­pa­cabana Palace, o hotel mais luxuoso do Rio de Janeiro, e comprou vestidos caros para sua “convidada”. “No Antonio’s, se não me engano, montaram uma impressionante cena de preparação de uma sobremesa flambada em meio a altas chamas. Carolina registraria mais tarde em seu diário: ‘Comi aquela confusão toda e não gostei’”, registra Audálio Dantas."


Esses trechos permitem-nos refletir sobre: 
(i) a prática da escrita como um ato social de poder, entendendo-se poder muito mais do que a imposição de alguns sobre muitos, como a capacidade de vencer a si mesma e superar as limitações e impedimentos impostos historicamente aos mesmos grupos pela estrutura da sociedade.
(ii) escrever é muito mais do que obedecer a regras gramaticais e a esquemas fixos de estruturação e estilo textual.
(iii) a prática etnográfica, por mais bem intencionada e por maior que seja o rigor metodológico (aliás, estou convencida que quanto maior o rigor metodológico, pior o resultado etnográfico), não permite captar a alma em estado de alma viva da vida de quem vive, impossível! 

Reflitamos, pois, galera!!!!!